EMPREGABILIDADE NO SERVIÇO PÚBICO: O QUE ESPERAR?


Ao abrir recentemente uma conta no LinkedIn, parece que uma nova janela se abriu para que eu redescobrisse uma antiga paixão, a Economia, que se havia trancada em um porão escuro enquanto eu me envolvia cada vez mais fundo nas ciências jurídicas por conta de minha profissão.


De certa forma, ainda que sem o rigor de um trabalho acadêmico ou a pretensão de uma resenha jornalística, postei recentemente um artigo cujo título era uma pergunta que propositalmente, deixei em aberto.


No artigo mencionado, fiz um breve histórico sobre a implicação das inovações tecnológicas quanto às relações de trabalho descrevendo alguns ciclos de construção e destruição criativas.


Quase ao mesmo tempo, traduzi dois artigos discorrendo sobre a questão tecnológica, o primeiro sob uma abordagem um pouco pessimista e o segundo mais otimista, ambos disponíveis no LinkedIn.


Bem, partindo do geral para o particular, faço uma sinopse da minha própria experiência laboral para traçar rumos para quem está em início de carreira ou para quem sofre de pavor quando ouve falar na assombrosa realidade chamada automação.


Nem ainda tinha colado grau em economia, já tinha começado a trabalhar em uma agência do antigo Banco do Estado de Minas Gerais, após conquistar uma das poucas vagas para o Rio de Janeiro do Concurso de 1992.


Quando entrei no Banco, apesar de ser uma agência pequena, os caixas estavam sempre lotados primeiras quinzenas de cada mês, período em que eu era convocado a fazer horas-extras com frequência.


Naquela época, os serviços de contabilidade e cobrança eram realizados com fichas de caixas, existiam dezenas de carimbos e os contratos de empréstimos e até as promissórias eram datilografados.


Os cheques avulsos também eram datilografados e quando um cliente ficava sem cheques, era necessário datilografar as vinte folhas do talão para atendê-lo.


Não foi preciso passar quatro anos para que o número de funcionários fosse reduzido à metade e para que a maioria das operações fossem automatizadas e vez por outra aparecia um advogado trabalhista oferecendo seus serviços “em caso de demissão”.


E a demissão veio para mim, e pouco depois para os outros colegas, pois agência em que eu trabalhava fechou. Graças a Deus, porém, quando fui demitido eu já havia passado no concurso para a Justiça Federal e consegui me recolocar em tempo.    


Quando cheguei na Justiça Federal, porém, ainda se usava máquina de datilografar, havia poucos computadores para o número de funcionários, os mandados e ofícios eram expedidos em um programa antiquado, tipo DOS, chamado SPT e ainda havia dezenas de carimbos.


Felizmente, pouco depois a Justiça adquiriu uma licença para utilizar os utilitários da plataforma Microsoft Office, o que agilizou em muito as expedições e permitiu a aposentadoria de dezenas de carimbos.


A grande revolução, porém, veio quando o sistema processual W-emul foi substituído pelo Apolo, que, entre outras inovações, trazia o preenchimento automático dos dados processuais nos textos dos expedientes, além da numeração automática, o que agilizou em muito as expedições e reduziu o volume de retrabalho e os gastos com papel, não obstante os primeiros meses terem sido um verdadeiro pesadelo com a lentidão gerada pela nova plataforma.


Pouco a pouco, outras inovações foram se somando, diligências como a consulta de folhas de antecedentes criminais ou de endereços de réus que antes demandavam a expedição de ofícios e a espera pela resposta do órgão destinatário, hoje são geradas automaticamente por meio de consulta à base de dados dos próprios órgãos.


E não parou por aí, uma vez que os próprios autos em papel foram substituídos por autos eletrônicos na maioria das serventias do judiciário federal e a última trincheira são as varas criminais que, por suas peculiaridades, ainda se utilizam de um sistema hibrido que não é completamente eletrônico e nem completamente físico.


Quando eu entrei na universidade de economia, o sonho da maioria dos calouros era trabalhar em uma empresa estatal e, quando eu terminei o curso, esse sonho já estava se tornando um pesadelo na maior parte delas.


Hoje, uma das últimas trincheiras desse sonho, a Petrobras, já despediu centenas de empregados sucumbindo às políticas equivocadas dos últimos governos.


O que dizer do Banco do Brasil, que quando abria concursos formavam-se filas quilométricas para inscrição e que, agora, acaba de lançar um programa de demissão voluntária e de incentivo às aposentadorias de seus funcionários?


E quem disse que o Poder Judiciário não irá seguir no mesmo sentido?


Primeiramente, é possível esperar dentro dessa mudança gradual na Justiça Federal o incremento do teletrabalho e da prática já enraizada de desvio de função por parte de técnicos judiciários realizando tarefas de Analistas e, por fim, a tão temida redução da força de trabalho.


Não há como se iludir, o futuro do Judiciário e do serviço público como um todo é a automação e é preciso estar preparado, pois as últimas trincheiras dos concursos públicos também estão com os dias contados.


Mas não se afobe, ainda há uma boa quantidade do gordura a ser queimada e a demanda por justiça ainda é maior do que os juízes e seus auxiliares podem resolver em um período de tempo razoável, ainda restam ações cuja dilação probatória desafia as metas prioritárias e ainda existe déficit de juízes e funcionários, mas a perspectiva é de que esse panorama irá se modificar.


Agora, quanto a questão sobre quem vencerá, o emprego ou a tecnologia, ela não vem ao caso, pois a pergunta que devemos fazer é como estar preparado para as mudanças que irão se seguir, como manter-se motivado, como atualizar-se e, por fim, a pergunta que nos interessa é, estamos prontos para vencer esta batalha ou não?


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