A TERRA DO LÁ, LÁ, LÁ E A VIDA REAL


Deixando de lado a discursão a respeito do roteiro e da qualidade dos protagonistas como cantores e dançarinos, a verdade é que, não obstante o tema repetitivo e as cenas na maior parte copiadas de outros filmes famosos, Lá Lá Lá Land é um filme encantador e merecedor dos prêmios conquistados e faz justiça às indicações ao Oscar.

A história de amor entre a balconista Mia (Emma Stone), que sonha com o estrelato, e o pianista de jaz Sebastian (Ryan Gosling) e seu final decepcionante e ao mesmo tempo apropriado, nos leva a refletir que a vida é cheia de escolha e muitas vezes a realização de um sonho é ao mesmo tempo significa o abandono de outro.

Isto porque a vida sempre envolve escolhas difíceis e tais escolhas provocam consequências e, infelizmente, até mesmo as escolhas corretas provocam perdas, como ficou claro no filme.

Não escolhemos nascer nem em qual lugar, tampouco em que família e se cresceríamos ricos ou pobres; brancos, negros, amarelos ou mestiços; homens ou mulheres; gordos ou magros; tais circunstâncias escapam ao nosso controle, assim como muitos outros eventos ao longo da vida, mas a partir do momento em que crescemos, gradativamente vamos tomando controle de nossas vidas, por meio de decisões.

Muito do que hoje somos ou o que havemos de ser depende das decisões que tomamos na adolescência, e é justamente nesta fase cheia de turbulências e impaciência, que precisamos decidir se faremos um curso secundário clássico ou técnico ou mesmo se seremos civis ou militares, se priorizamos os estudos ou as diversões.

Após o secundário, entramos em uma fase crítica em que decidimos se ingressamos direto no mercado de trabalho, se faremos uma faculdade em tempo integral ou noturna, se um curso universitário ou politécnico e por aí vai.

Quase todas essas escolhas envolvem perder em um momento para ganhar mais em outro, ou resolver a vida logo, ainda que isto importe em perdas no futuro.

Nessa idade também muitos decidem se permanecem na religião dos seus pais ou se adotam outra crença ou mesmo não adotam nenhuma, se continua na mesma cidade ou se migra em busca de maiores oportunidades.

Nada, porém é tão cruel quanto à escolha entre fazer o que se quer ou fazer o que dá sustento, escolher a estabilidade de um concurso público ou aventurar-se nas incertezas da iniciativa privada, ser empregado ou freelance; profissional liberal ou comerciante. E quando a escolha é fazer aquilo que se gosta, mas não remunera a contento; ou um bom salário à custa de um trabalho insuportável.  

No filme, um músico de jaz purista tenta de todas as maneiras tocar música de qualidade, mas se vê forçado a fazer concessões para ganhar a vida, enquanto a balconista passa por todo tipo de testes tentando uma carreira como atriz e só consegue quando já tinha desistido e voltado para sua cidade natal depois de uma peregrinação de anos em Los Angeles.

No filme, os sonhos se realizam depois de quatro estações, mas na vida real nem sempre é assim e, não obstante os clichês de autoajuda tais como “nunca desista de seus sonhos” ou “quem espera sempre alcança”, “persista que o seu dia chega”, a verdade é que sonhos não pagam as nossas contas, exceto se formos padeiros.

Há milhares de jogadores de futebol em todo o mundo, mas apenas algumas dezenas alcançam o estrelato e uma conta de milhões de dólares, a grande maioria vive com ajuda de custo ou precisa de outro emprego para se sustentar.

Todos os anos, milhões de jovens se formam em academias de música e muitas vezes as estrelas que alcançam contas milionárias sequer sabem que a clave de fá existe, e ainda há aquelas que sequer sabem o que é ou para que serve a clave de sol.

E é assim não apenas no ramo artístico, mas em todas as profissões, pois é cada vez mais comum vermos os jovens saírem das faculdades com uma carreira e seguirem outra completamente diferente, o que não deveria jamais ser creditado como incompetência, mas como uma capacidade adaptação que cada vez se torna mais essencial.

Por fim, já que não vivemos na terra do Lá, Lá, Lá, não devemos desistir de nossos sonhos, mas é preciso manter-se acordado, afinal, o primeiro passo para se realizar um sonho é acordar.
                                                      Foto: Pixabay - Pixel 2013

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