UM ECONOMISTA NA ACADEMIA
Apesar de não exercer a profissão de economista, foi uma
grande satisfação assistir pela televisão a posse de Edmar Bacha na ABL e ver
uma plateia de grandes economistas brasileiros presentes a esse evento.
Foi no ano de 1992 que me formei em economia pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, ou seja, quase vinte e cinco
anos, porém há mais de 10 anos que cancelei meu registro profissional pois há
quase vinte anos trabalho na área jurídica e até me formei em direito, mas não
nego que tenho uma ponta de inveja daqueles que trabalham diretamente com a
Economia.
Mas o que faz alguém gosta de uma ciência que, com toda
razão, foi denominada pelo filósofo escocês Thomas Carlyle (1795 a 1881) de “a
ciência melancólica”?
Poderíamos argumentar que Carlyle viveu no limiar da
“ciência política”, quando ele nasceu, o celebre livro de Adam Smith (sim, a
economia nasceu com um Adão), “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da
Riqueza das Nações” ainda não tinha completado 30 anos de existência.
A economia, porém, continua sendo o patinho feio das
ciências, não é para menos que a definimos como “a ciência da escassez” e o
primeiro problema que o jovem estudante de economia se depara é o das
necessidades humanas infinitas em meio a meios a fatores de produção finito.
Talvez para não assustar, antes de entrar nos modelos
macroeconômicos e microeconômicos tridimensionais, o futuro economista é
apresentado à famosa “CPP”, ou “Curva de Possibilidades de Produção”, uma curva
com dois eixos, produto 1 e produtos 2, na qual para se aumentar a produção do
produto 2 é preciso reduzir a do produto 1 e vice-versa.
A CPP pode ser a escolha entre produzir parafusos ou
produzir pregos, entre produzir maçã ou produzir laranja, tudo depende da
imaginação do professor ou do autor do livro de economia.
Mas a crueldade da CPP não para por aí, em regra a CPP é
mesmo uma curva e não uma reta, pois a produção adicional de um produto em
detrimento de outro sempre é crescente, o que se chama de “custo de
oportunidade”, afinal, um funcionário treinado para produzir pregos não vai
produzir parafusos com a mesma facilidade.
Bem, e isso é aplicável a quase tudo na economia, que é
feita de escolhas muitas vezes amargas, como a de que, para saldar compromissos
assumidos pelo nosso Banco Central à juros altíssimos é preciso reduzir o valor
das aposentadorias.
Só que a economia na vida real é bem mais complicada,
sobretudo a macroeconomia, que esbarra na prodigalidade de outra ciência, a
política, que em uma democracia vende a felicidade e entrega a realidade e que
muita das vezes esnoba das leis econômicas mais básicas cujo custo será pago
pelas gerações futuras.
Na faculdade, os modelos econômicos são acompanhados da
cláusula coeteris paribus, uma ficção
de que todas as demais variáveis serão constantes, enquanto na vida real nada é
constante e os economistas são pressionados por todos os lados por corporações
de trabalhadores e de servidores, políticos, instituições religiosas,
comerciantes, banqueiros, industriais, cada qual querendo o seu quinhão do
produto que os fatores de produção de uma determinada época podem oferecer.
Por mais paradoxal que seja, a economia, ainda que seja
melancólica e que os economistas, sobretudos os que trabalham com a Política
Econômica do Governo, sejam talvez os maiores estraga prazeres hoje existentes
na face da terra, não deixa de ser fascinante e, por essa razão, o país o
número de “pretensos economistas” esteja crescendo tanto quanto o de “pretensos
técnicos de futebol” no país.
Edmar Bacha ficou famoso por seu livro de fábula no qual foi
cunhada a expressão Belíndia, uma país no qual conviviam a opulência da Bélgica
e a miséria da Índia, e claro que esse país não passa de uma caricatura do
Brasil, mas o livro foi lançado em 1974, época em que não se podia apresentar a
realidade de forma explícita.
O novo imortal participou da equipe que elaborou o
fracassado plano Cruzado, mas não esmoreceu e teve atuação decisiva no Plano
Real, de 1994, que finalmente livrou o Brasil de um estado de hiperinflação crônica
e que, mesmo com tropeços, tem se mantido até hoje.
Bacha assume a cadeira de número 40, cujo patrono foi o
famoso Visconde do Rio Branco, sucedido por 4 advogados (Eduardo Prado, Afonso
Arinos, Alceu Amoroso Lima e Evaristo de Moraes Filho) e um médico (Miguel
Couto).
Parabéns para o mais novo imortal!
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