Diálogo

Mais um ano termina e é hora de comemorar o sucesso e buscar novas estratégias para consertar o que deu errado, e o gestor não pode assumir todos os erros e acertos sozinhos, mas aproximar-se da equipe para celebrar os acertos e repensar os fracassos, o que inclui aquele palavra muitas vezes funesta chamada reunião.

Isso mesmo, o fim de ano não é o momento apenas de esvaziar as gavetas, fechar o balanço ou picotar papéis para jogar pela janela (prática que a informatica a cada ano torna mais obsoleta), mas uma grande oportunidade de promover reuniões produtivas e adiantar os desafios que serão enfrentados no ano seguinte.

A palavra reunião, porém, ainda é entendida como aquele agrupamento chato no fim do expediente da sexta-feira, quando todo mundo está pensando no happy hour, para tomar conhecimento daquilo que todo mundo já sabe, isso se não for aquele momento aterrorizante em que o chefe todo poderoso despeja toda sua ira nos “incompetentes” membros de sua equipe.

No universo corporativo privado, o gestor que não reune a equipe ou que, quando reúne, é para realizar reuniões tais como a do parágrafo anterior, praticamente não mais existe, é uma peça de museu, mas infelizmente ainda é muito comum no setor público, no qual a produção de resultados nem sempre é o vetor que orienta as nomeações nos cargos de comando.

A sociedade, contudo, não deseja continuar pagando a conta de uma Administração Pública ineficiente, e com toda a razão, exige resultados para que nós, funcionários públicos, possamos ter uma remuneração que pelo menos preserve o nosso poder de compra, e reuniões produtivas são muito importantes para a tão almejada eficiencia no serviço público.
nesse ponto, gostaria de ater-me a uma palavra muito importante quando o tema é reunião e que se chama diálogo.

Devemos aos gregos a inclusão dessa palavra em nosso léxico, e em sua origem estava a junção de duas palavras, duo (δύο) e logos (λόγος), resultando na palavra dialegomai (διαλέγομαι), que significa conversa, súplica, disputa, solicitação e, por fim, diálogo.

Duo significa dois ou duas,  enquanto  logos, significa razão, apesar da palavra logos ser mais conhecida pelo seu outro sentido que é palavra ou verbo (do latim Verbum, da tradução latina da Bíblia de Jerônimo), tal como a tradução portuguesa do famoso prólogo do Evangelho de João.

A palavra diálogo, portanto, origináriamente conduz à ideia de que duas opiniões (ou razões) convergem para a verdade, e que uma conclusão só pode ser comprovada quando posta em cheque com ideias opostas.

Graças a Platão, dispomos hoje dos famosos diálogos de Sócrates, em que o ilustre filósofo discutia com seus alunos um tema particular que era formado por diversos contrapontos que expunham as contradições em cada argumento até chegar a uma conclusão sólida.

O método de Sócrates ficou conhecido como elenchus socrático, e até hoje é utilizado nas melhores faculdades de direito americanas, e os temas abrangiam questões como política, a vida após a morte, ética, arte, metafísica e tantos outros.

Felizmente, o mundo corporativo tem se voltado para a filosofia e buscado em nomes como o filósofo Sérgio Cortella métodos de trabalho e comportamento que muitas vezes nos remetem à antiga Grécia Clássica.

Por outro lado, vivemos em um tempo em que quase todos possuem sua convicção sobre determinado assunto e não estão dispostas a ouvir o que o outro pensa, e se temos que ouvir o outro nem esperamos terminar o raciocínio e já estamos pensando qual a melhor maneira de refutá-lo.

O Facebook é a maior demonstração de quão trágica é a nossa convivência, pois quando alguém discorda daquilo que pensamos, simplesmente “desfazemos a amizade”, o que não é tão simples quando se trata do ambiente de trabalho, especialmente no serviço público, em que um dos princípios norteadores é o da impessoalidade.

Antes de Sócrates, o sábio Salomão já tinha dito que “aquele que responde antes de ouvir mostra que é tolo e passa vergonha (Provérbios 18.13)”, e ouvir alguém apenas para contrariar é praticamente a mesma coisa.

Por isso, iniciar uma reunião sem o propósito de ouvir os componentes da equipe não passa de presunção e serve apenas para consumir um tempo precioso no qual a equipe deixa de trabalhar. 

Mais sábio é não realizar qualquer reunião  do que conduzir um monólogo disfarçado de diálogo.

Cabe ao gestor criar o ambiente propício ao diálogo, à troca de ideias, ao feedback, mas para isso é preciso humildade e reconhecer que nenhum ser humano é dono da razão, de tal modo que as reuniões fluam naturalmente e as pessoas sitam-se motivadas a dar o melhor para alcançar seus objetivos. 

Feliz 2017!


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